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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA

 

 

Foto: www.apeg.org.br/

 

 

GETÚLIO TARGINO

 

Getúlio Targino Lima nasceu em Floriano, Piauí.
Professor Emérito pela Universidade Federal de Goiás. Advogado,
jornalista, escritor, membro da IHGG, da UBE, da ANE e da AGL (cadeira 06) é seu atual presidente.
Dedica-se ao conto, ensaio, crítica, oratória e poesia.
É cidadão honorário de Anápolis, Goiânia e Goiás.
Publicou diversos livros, dentre os quais:
Reencontros com a juventude, Solilóquio, Universo de cada um, A gota e a pétala, e A dama do oculto.

 

     

ANTONIO ALMEIDA

BRITO, Elizabeth Caldeira, org.  Sublimes linguagens.  Goiânia, GO: Kelps, 2015.   244 p.  21,5x32 cm.  Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques.  ISBN 978-85-400-1248-6 BRITO, Elizabeth Caldeira, org.  Sublimes linguagens.  Goiânia, GO: Kelps, 2015.   244 p.  21,5x32 cm.  Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques.  ISBN 978-85-400-1248-6

Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

         "A vida, da qual a morte é mera escrava.
Porque mesmo quando esta se alteia,
num átimo, paralisando o corpo, aquela
se serve disto para poder passar, em
completa liberdade, nos ambientes que
seu coração construiu."

 

 

       

        RETRATO ÍNTIMO
(Visão íntima sobre a Cidade de Goiás)

Nessa Goiás de uma vida e história,
berço de fatos, atos e conquistas,
ainda há muito mais do que a memória
contém em si ou se lê nas revistas.

Essa Goiás antiga — trono e glória,
poder e manto, arte, cor e artistas —
tem muito mais que a voz mais ostentórea
possa cantar, até quanto resistas.

Goiás, as tuas ruas de infinito,
teus casarões, teu eu indecifrável
atravessaram os portais do mito.

Goiás, noturnamente, assim tão calma
lânguida qual mulher imponderável
domas meu coração, prende minh´alma.

 

 

 

       ANDARILHO

Sou andarilho / mundo.
Passo gigante faço.
Vim das estrelas,
irmão dos planetas
e filho do sol:
compasso.

Quero saudar a vida,
sem frouxidão, cansaço.
Tudo caminha uma rota,
o próprio Universo
é andarilho:
espaço,

 

       vento que açoita os cabelos
é o incentivo na luta.
Males podemos vencê-los
com o favor,
sem disputa.

Matéria, gritos, horrores
são o estertor do inimigo,
vou caminhando
na graça do Pai,
como filho,
eu sou andarilho.



COMO UM OLEIRO CEGO


Como um oleiro cego mas vidente
de alma, vou tocando, extasiado,
teu corporal relevo, frio e ardente,
ao sabor do acidente decifrado.

Curvas e elevações vou, com um crente,
percorrendo, sem pressa e sem enfado.
Em ti tudo é assim tão diferente
e, ao mesmo tempo, tão do meu agrado.

O teu cheiro me entre pelos olhos,
tuas cores, pressinto-as nas narinas
e meus dedos enxergam teu abrolhos...

E, tateando, eu vou, como mandares,
saboreando formas tão divinas,
como um deus, o manjar de seus manjares.

 

 

      

       A PALAVRA POÉTICA

A palavra poética
pontifica,
prioritariamente,
como símbolo
de si mesma,
de seu eu,
sua substância viva,
embora
traduza
os contornos externos
de algum objeto.

A palavra poética
é formada
de sons,
de luz,
de cores
e tons
que brotam
dela mesma
e invadem
o ambiente
circundante.

A palavra poética
que pretendemos
presa no papel
onde é grafada,
sorri do poeta
e da fragilidade
de suas cadeias

Pois mal
a deitamos
na folha
ela,
aparentemente inerme,

na sua mortalha
natural
de riscos,
deixa, na linha,
apenas o volume
falso
de seu sentido
emprestado.

E sai gritando
verdades
no infinito
das almas.
E cantando
melodias
inacabadas
e inacabáveis,
porque eternas.

Quem tem olhos
de ouvir,
e ouvidos
de ver
toque
e sinta.

Amém!

 

 

 

       DE INVEJA, PÁLIDA...

A lua nova
apareceu no céu,
esguia e pontiaguda,
acutilando desejos
de um sol
escondido.

Mas olhou
para a terra
e te viu,
deitada
na relva.

E desejou,
como tu,
aquele contato
morno,
sensual
e provocante,
do corpo
no corpo;
do desejo no desejo,
sem medo
ou pejo.

Aí,


 

       nervosa,
inquieta e muda,
sozinha e sem ajuda,
recolheu-se
entre as nuvens,
como inválida...
De inveja,
pálida.

 

 

 

       QUADRO E MOLDURA 

Era escura a tela.
Era negra a moldura.

E no caminho de pedras

              e cactos
caí e me espinhei
algumas vezes.
Algumas vezes
tropecei no vácuo,
bati na escuridão.

Era ofuscante a tela.
Era alvinitente a moldura.

E no leito de espuma
e maciez
deitei-me e machuquei-me
algumas vezes.
Algumas vezes
cambaleei na luz
ceguei-me na claridade.

E maldisse
a escuridão
e a luz;
a coragem
e o medo;
o ser
e o não ser.

Até que, bem no centro,
lá no alto da tela,
uma luta pequena
mas atuante
mostrou a terra,
as pedras,
os cactos
e o leito que se pode fazer
sem muitos espinhos,
sem muitas pedras,
e com muito amor.

AÍ EU VI VOCÊ.
ENTÃO EU VI A MIM.


 

 

 

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Página publicada em junho de 2021


 

 

 
 
 
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